31 de jan. de 2017

Priscila Fantin: “Percebi que damos bronca quando não estamos com a criança por inteiro”


Mãe de Romeo, 5 anos e casada com o também ator Renan Abreu, a atriz Piscila Fantin fala do dia a dia com o filho e conta que se empenha para educar de forma compreensiva. Para ela, a maior frustração da maternidade foi ter feito uma cesárea e não um parto normal. Veja a íntegra da conversa com a colunista Taynara Prado.
Você já declarou que o Romeo não quer cortar o cabelo e é feliz assim. Você se sente afetada quando alguém faz perguntas a respeito das escolhas dele?
Não. Entendo que nossa educação cultural e social é limitadora.
De que forma você lida com o bullying escolar ou da sociedade com relação a isso?
Numa boa. Romeo não sofreu bullying. Acho uma palavra forte  Ele teve situações isoladas na escola. Na maioria das vezes, é só confusão que a pessoa faz mesmo. O bullying traz consequências sérias no emocional e psicológico. Já o Romeo compreende e não liga.
Em quais situações você precisa dar bronca no Romeo?
Eu percebi que dar bronca, bronca mesmo, acontece quando estamos cansados ou com alguma questão que não nos permite estar por inteiro [com a criança] naquele momento. Eu quase não brigo; eu converso. Normalmente, ele não quer parar de brincar para tomar banho ou não quer dormir, exatamente como eu na idade dele (risos).
Como foi o processo de escolha da primeira escola do Romeo?
Gostamos de escolas que não limitem a criatividade ou o dom inato do ser, mas que incentivem. Tivemos a sorte de ter uma escola construtivista ao lado de onde moramos. Melhor, impossível!
Romeo já  fez alguma pergunta que te deixou sem resposta?
"Quando a primeira pessoa do planeta ainda era neném, quem eram os pais dela?" ou "A vida não acaba nunca?". Já teve também: "Porque existe o amanhã? Eu quero viver só hoje para sempre”. É ele quem me ensina os segredos da vida.

Você já declarou ter sofrido com o efeito sanfona.  Isso impacta nas suas escolhas alimentares com o Romeo?
Não, porque o que eu tinha era retenção hídrica. Minha alimentação sempre foi boa.  Ele come o que a família come: sempre alimentos integrais, muitas frutas (que ele ama), sementes, queijo (também ama), ovos, peixes, biscoitos, chocolate, açaí, comida japonesa também. Ele come de tudo, com consciência do que cada alimento faz no seu corpo.
Romeu entende o universo artístico dos pais? Ele já demonstra interesse por teatro, TV e cinema?
Sim, ele adora ir para a coxia e para o palco antes das peças. Ele sabe o nome das minhas personagens, sabe que não sou eu que estou dizendo ou fazendo aquilo, inventa mil histórias, brinca de personagens, faz teatro de fantoches, apresenta telejornal dentro da caixa de papelão, dirige fotos com os bichos de pelúcia... Ele vive esse universo diariamente.
Como você descobriu que estava grávida?
Eu estava sentindo meu corpo lento, pesado, os seios inchados e comecei a pesquisar o que era. Eu estava sem disposição para nada. Não conseguia mais treinar e tinha muito sono. Logo pensei em gravidez, mas fiz um teste de farmácia e deu negativo. Fui à ginecologista, ela apalpou o útero e disse que não era gravidez. Cheguei a sangrar um pouquinho na época em que era para eu estar menstruada. Eu estava achando tudo estranho e fiz ultrassonografias. Os exames mostravam o peito cheio de líquido e um coraçãozinho batendo no útero. ''É neném!", a médica disse! Eu estava com dois meses de gestação e  tive muito enjoo, pressão baixa e desconforto. Passei a gravidez bem quieta e deitada. Meu maior desejo era não estar enjoada. Também senti de me alimentar com leite e carne vermelha, coisas que eu não comia até então.
Romeo nasceu por uma cesárea. Em algum momento se sentiu pressionada ou julgada por conta disso?
O maior julgamento foi o meu próprio. Eu queria profundamente que fosse parto normal. Queria que ele fizesse o esforço de nascer, em vez de ser "retirado". Além disso, acho cesariana uma agressão para o nosso corpo. São sete camadas sendo cortadas e depois costuradas. Só que ele estava com duas voltas de cordão entre o ombro e o queixo, corria o risco de sufocar e também não estava encaixando a cabeça para começar o processo.
Você se frustrou com a amamentação?
Ele pegou o peito assim que chegou no quarto. Na maternidade, já mamava bastante e eu tinha leite o suficiente. Minha frustração foi só ter feito a cesariana mesmo. Eu não tinha grandes expectativas sobre a maternidade; estava esperando ele chegar para me mostrar como era e, do jeito que fosse, seria o jeito certo para a gente. Por isso não acredito em cursos de pré-natal sobre como acalmar o seu bebê. Cada ser humano é imensamente diferente do outro. Cada gravidez, cada parto, cada peito... Basta estar, de fato, envolvida e aberta para o que vier pela frente.

Como foram os primeiros dias após o nascimento do Romeo?
Ficamos só nós três: eu, ele e o pai dele. Queríamos nos conhecer, nos sentir. Foi exaustivo, mas profundo. Eu estava cansada, sensível, emocionada, frágil... Foi muito importante o Renan estar tão presente.
Como vocês se saíram nos primeiros cuidados com o bebê?
Passamos por tudo com naturalidade; os três se conhecendo (enquanto pai, enquanto mãe, enquanto filho, enquanto família) mutuamente, com cuidado. Ficávamos exaustos, mas firmes. Estávamos apresentando o mundo para alguém que antes estava protegido de tudo dentro de mim. Enquanto isso, ele nos apresentava o milagre da vida. Não digo que foi fácil; demanda paciência e doação. Mas foi lindo, foi como deveria ser.

A paternidade foi reveladora na vida do Renan?
O Renan ainda me surpreende. Ele foi o primeiro a dar banho. No primeiro mês, só ele deu, acho. Ele acordava de madrugada só para dar apoio moral na hora de amamentar, trocava fraldas o tempo todo. Até hoje o acalma como ninguém, o faz dormir com a maior tranquilidade do mundo - e rápido! Romeo está tão divertido quanto o pai! Ele é apaixonado pelo pai e vice-versa
Que conselho da sua mãe você aplica na educação do Romeo?
Que sono, fome e calor irritam.

Que conselho você daria para outras mães?
Escutem seus filhos. Espere que eles terminem a frase, mesmo que ela não tenha palavras. Converse com eles com seus olhos na mesma altura. Não desconte as suas frustrações nos “nãos” que tiverem que dar. O “não” e o “sim” têm o mesmo valor. Dê valor aos seus feitos; é o melhor que podemos fazer. Não faça seu filho de boneco pedindo: "Fale aquilo ou faça aquela cara para eles verem". Deixe que eles descubram quem são e que mostrem isso para o mundo na hora em que quiserem.
Fonte: Revista Crescer