"Uma pessoa que dá 67% de audiência numa novela pode ser considerada normal?", questiona Mariah, atriz famosa que Priscila Fantin interpreta no teatro, ao jornalista vivido por Herson Capri na peça "A entrevista". Essa frase poderia muito bem ser dita pela própria atriz, que no auge dos seus dez anos de carreira protagonizou cinco novelas na Globo, entre elas, "Alma gêmea", a de maior audiência nos últimos 19 anos no horário das seis. Mas Priscila e Mariah tem muito pouco em comum, tirando, claro, o fato de serem estrelas, famosas e adoradas pelo público. Enquanto sua nova personagem, a despudorada, sádica e drogada conquista fama também em cima da sua vida sexual, a mamãe de Romeu, de 1 ano, consegue se manter discreta e ilesa das polêmicas envolvendo sua vida pessoal. Como explicar, então, o fato de uma das queridinhas da Globo está afastada da televisão? Priscila diz que precisava de um tempo para respirar e se reciclar. Depois de superar uma crise existencial, que incluiu o desejo de abandonar a carreira, entrar na casa dos 30 anos, casar e se tornar mãe, ela diz estar pronta para voltar a brilhar na telinha.
Contratada até 2015 da Globo, sua última novela foi há três anos ("Tempos modernos"). Você está na geladeira?
Claro que não! Sempre achei importante ter um tempo maior entre um personagem e outro (ela emendou vários trabalhos desde que estreou em "Malhação"). Pedia essa reestruturação pessoal, precisava me reciclar, arejar, respirar! Assim que acabou "Tempos modernos" fui convidada para outra novela ("Caras e bocas") e acabei recusando. Logo em seguida, engravidei (do Romeu, de 1 ano) e então a emissora respeitou, tanto o momento quanto a minha vontade.
E agora, o que está faltando para você voltar à TV?
Falta a hora certa. Sinto que estou pronta para trabalhar como já estou trabalhando! Exerço minha profissão em qualquer área de veiculação, amo atuar e isso é ainda mais enriquecedor. Gostaria de trabalhar com várias pessoas! Manoel Carlos, João Emanuel Carneiro, Duca e Thelma, Gilberto Braga, Jayme Monjardim, Dennis Carvalho e Rogério Gomes. Repetiria a dose com Amora Mautner, José Luiz Vilamarim, Luiz Fernando Carvalho, Silvio de Abreu. Na verdade, gostaria de trabalhar com qualquer profissional que ame seu ofício
Polêmicas envolvendo a sua vida, como quando o seu marido Renan foi pego fumando maconha ou quando foi noticiado que você o agrediu, de alguma forma, prejudicaram a sua carreira?
O que sai na mídia é apenas um ângulo da história. Num primeiro momento, eu me preocupei com o que estavam falando sobre mim, mas tinha o conforto de que quem me conhece sabia que não era daquela forma. Depois vi que ninguém acreditou mesmo. No final das contas, as pessoas não acreditaram. Fiquei mais feliz ainda em ver que mesmo com notas maldosas, as pessoas mantiveram o carinho e admiração. As polêmicas que você citou foram geradas por intriga. Quando estamos em paz com nossa consciência, tudo fica mais fácil
Você se considera uma queridinha da Globo?
Acho que ser solicitada é fruto de disciplina, postura e profissionalismo. Visto a camisa da equipe, me preocupo com todos a minha volta, não tenho exigências, não dou trabalho! Me sinto, sim, muito querida por todos na Globo, mas não posso dizer que sou "A queridinha". Somos várias queridinhas!
Com várias protagonistas no currículo, você aceitaria papéis menores numa novela?
Claro que faria coadjuvantes! O importante para mim não é o tamanho do papel, mas a profundidade. Ainda me falta fazer tudo na televisão. Costumo não me arrepender de nada na vida, pois até os piores momentos trazem benefícios. É no sofrimento que se cresce. É uma carreira sólida, transpassada de dedicação.
Como explica o fato de você ainda fazer sucesso mesmo longe da TV?
Não sei dizer ao certo. Não subo no pedestal que tentam me colocar. Tenho uma essência livre, compassiva, justa e carismática. Sou ser humano como todos. Também erro, choro e pago contas. Sou discreta naquilo que diz respeito a uma intimidade inerente. Fiz um twitter (@fantinpri) para ser mais acessivel e tirar essa barreira da celebridade.
Sua forma de lidar com a fama hoje é diferente de quando você começou?
É diferente de modo geral. Em 1999 (quando estreou em "Malhação, aos 16 anos) a velocidade e a voracidade não eram sem freio. Eu não sabia o que estava por vir, não sonhava com a fama, portanto não imaginava esse lugar. Hoje estou mais madura e isso ajuda a lidar melhor com tudo.
E como superou a crise existencial que teve no início da carreira?
Houve uma crise pela exposição. Sou reservada, tímida, não gosto de chamar atenção e isso tudo começou a acontecer sem eu ter tido vontade nem tempo de perceber que aconteceria. Estava trabalhando para ter minha independência financeira, não para aparecer. Estava longe da família, das amigas, não estava feliz pessoalmente, trabalhava muito e, no tempo que restava, eu estudava. E ainda tinha que ser falada, observada, julgada, medida por todos. Eu não entendia aquilo! Quis largar tudo e voltar para Belo Horizonte. Mas, entrei na faculdade (de Publicidade), podia pagá-la com meu trabalho, arrumei um namorado (o ator Renan Abreu), ganhei uma cachorrinha e fui ficando.
Está pronta para cortar de vez o cordão umbilical de Romeu?
Sou eu ou o Renan quem cuida do Romeu quando o outro está trabalhando. O Renan é uma mãe. Quando os dois não podem, contamos com as avós e tios. Romeo logo faz 2 anos, já está na escolinha e não é mais tão dependente da mãe. É bom que esse desmame está acontecendo aos poucos
A sua forma física também sempre foi muito explorada. Como lida com a questão do corpo e vaidade?
A beleza só aparece quando estamos de bem com a vida. Não cuido do corpo, cuido da alma. Nossa felicidade é o principal tratamento de beleza. O que me faz feliz é ver bem quem eu amo e a simplicidade do dia a dia! Aceito bem minha estrutura física (músculos com predominância de fibra branca, ossatura larga), não tento me encaixar num padrão, apenas faço do meu corpo um "ambiente" saudável e a alimentação natural também faz parte disso.
O que mudou na sua forma de pensar e agir com a chegada dos 30?
Difícil explicar. Mas acho que foi a experiência desses 30 anos. Tudo que já vivi foi aprendizado. A maternidade te coloca uma lente a mais na forma de ver o mundo.
Quais são seus planos profissionais para quando a peça ("A entrevista", em cartaz no Teatro das Artes) acabar?
Quero tentar viajar com a peça! Fora essa vontade, estamos produzindo, Renan e eu, uma outra para o ano que vem, na qual vamos atuar juntos. Uma ator nunca para de aprender e de se testar.
Por falar na peça, o que você tem de semelhante e diferente da sua personagem Mariah?
Temos a mesma profissão e status, mas nossa conduta é praticamente oposta! Nunca fiz uma entrevista nas mesmas condições que ela (na peça, a estrela Mariah é entrevista pelo jornalista político Pedro Pierre, personagem de Herson Carpi, dentro do próprio apartamento da atriz). Sempre há mais gente envolvida e o local também é neutro. Não me lembro de ter me deparado com um repórter tão preconceituoso em relação a mim (Pedro chega à entrevista com conceitos já definidos, e nada positivos, sobre Mariha). Ela é a personagem mais cheia de camadas que já caiu nas minhas mãos. Ela vive diferentes emoções em minutos, o gráfico emocional dela é frenético! Aprendi outros pontos de vista sobre alguns conceitos. O que me encantou também foi a profundidade do texto, o drama do vazio existencial de cada um. Vale a pena discutir na peça sobre a superficialidade das relações em geral, sobre o julgamento que fazemos do outro e sobre nossos valores".
Fonte: Extra Globo.com
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