"'A Entrevista' me encantou justamente por tratar de questões que, de certa forma, fazem parte da minha vida", declara a atriz Priscila Fantin no programa da peça que estreou este fim de semana em São Paulo.
O texto, que envolve um jornalista que tem a missão de entrevistar uma jovem estrela de telenovelas, foi escrito por Theodor Holman, baseado no filme 'Submission' de Theo Van Gogh - sobrinho neto do famoso pintor holandês. A tradução e adaptação é de Euclydes Marinho.
Mariah (Priscila Fantin) é a celebridade televisiva do momento: 'o par de seios mais desejado do Brasil'! E age como tal - fingindo-se extremamente ocupada, permite ser entrevistada por Pedro Pierre (Herson Capri) por apenas trinta minutos, em seu próprio apartamento.
A cenografia de Flávio Graff é clean e requintada, dando vazão ao glamour que se tem ideia que o estrelato - junto ao salário polpudo, pode proporcionar a uma protagonista do horário nobre.
Pedro Pierre é um ex-jornalista político de prestígio que meteu os pés pelas mãos e foi transferido para o setor de celebridades televisivas, assunto pelo qual não nutre nenhuma simpatia. O seu objetivo é desvendar os projetos de Mariah, seus sonhos e amores. Mas 'A Entrevista' toma um rumo totalmente inesperado. Para ambos.
A encenação de Susana Garcia é levada num tom bastante naturalista, como não poderia deixar de ser. Pausas e silêncios são bem distribuídos. Talvez pelo fato dos dois atores serem muito conhecidos pelos trabalhos na telinha, por vezes tem-se a sensação de estarmos assistindo a uma cena de telenovela no palco.
Priscila Fantin aparece em cena exuberante: bela e carismática sem nenhum esforço. "Você é muito linda", diz-lhe Pedro Pierre à certa altura. "Por isso sou a protagonista!", responde Mariah desdenhando o elogio. A atriz mescla com equilíbrio o estereótipo da starlet com o ser humano confuso e solitário que habita em sua personagem.
Herson Capri demonstra com clareza o desgosto de um profissional que é obrigado a 'defender o seu' - apesar de preferir estar em Brasília noticiando o momento político atual. Pouco a pouco, Pierre vai sendo seduzido pela juventude e a estonteante beleza de Mariah. Ao mesmo tempo que não perde o 'faro jornalístico' e dá o sangue para obter um furo para a sua coluna. O desenrolar do diálogo é revelador. O final, surpreendente.
'A Entrevista' mostra que a busca incessante da fama, do glamour e do estrelato em si pode ter um preço alto se não for muito bem administrado. Vale a pena o sucesso a qualquer custo? Sucesso e solidão, por vezes, podem andar muito próximos.
Com figurinos graciosos de Kika Lopes, uma bela iluminação de Paulo César Medeiros e uma sensível trilha original de Alexandre Elias - sob a direção geral de Daniel Filho, 'A Entrevista' fica em cartaz no Teatro Vivo (SP) de sexta a domingo, até o dia 16 de dezembro.
Fonte: http://t.co/GOXRKkLT