No palco do Teatro Vivo, em São Paulo, a atriz Priscila Fantin, de 29 anos, surpreende ao interpretar uma estrela de televisão sabatinada por um jornalista decadente (personagem de Herson Capri) encarregado de traçar seu perfil. É assim, dando vida a uma personagem intensa, inspirada em tipos comuns no meio artístico, que Priscila se desafia na comédia dramática “A Entrevista”. Fora da cena, a baiana criada em Belo Horizonte (MG) e radicada no Rio de Janeiro desde 1999 vive pela primeira vez o papel de mãe. Com um ano e três meses, o pequeno Romeo, fruto do relacionamento com o ator Renan Abreu, também serviu para Priscila reavaliar suas prioridades.
O que mais a encantou nesse espetáculo?
O convite veio do produtor Sandro Chaim, que sugeriu meu nome ao Daniel Filho, diretor-geral em parceria com a Susana Garcia. Ao ler o texto, eu me encantei exatamente com a discussão proposta e não tive duvidas de que gostaria de levá-la ao publico. São vários temas e pontos de vistas que me instigam, mobilizam e fazem refletir. A Mariah é uma personagem que me permitiu derrubar alguns conceitos pessoais que estavam mais próximos dos vividos pelo personagem do jornalista. É um prato cheio. Muitas camadas, nuances, defesas… Uma construção difícil por ser tão rica e minuciosa.
A Mariah é símbolo de uma geração – no caso, a sua também – que despontou em meio à explosão da internet e da era das celebridades. Quanto da sua experiência ou do que você vê nos bastidores está na personagem?
Há uma medida feita para a Mariah e para a peça. O que tenho de referência pessoal aparece nos momentos mais dramáticos, no vazio que a fama traz e na invasão do íntimo. Seu comportamento é escancarado, três tons acima, narcisista e desbocado. Até mesmo suas fugas foram uma compilação de exemplos reais. Quando comecei minha carreira, em 1999, existiam duas ou três revistas de celebridades e um paparazzo no Rio. Daqui a pouco, tudo cresceu. Essa revolução toda foi um segundo susto para mim, mas aí já vem mudanças de um outro lugar, de ser humano e não só de atriz.
Lembro-me de ler matérias em que você contava que sofreu muito ao virar sucesso da noite para o dia e pensou em desistir de tudo. Como foi segurar essa onda e organizar sua cabeça?
Acho que o que me ajudou a segurar a onda foi trabalhar sem descanso. Fui indo, indo, pegando desafios e aprendendo mais. Engraçado que, naquela época, eu não me importava com o dinheiro, tamanha era a dor emocional, mas provavelmente isso ajudou a superar os problemas de chegar ao Rio e ficar longe da família também. Há três anos, eu parei para analisar minha carreira e me afastei um pouco dessa roda-viva para poder olhar e cuidar do lado pessoal. Hoje, o lado pessoal é o mais importante para mim. Desde então, faço terapia, e a compreensão alivia tudo.
Depois do nascimento do Romeo, você fez só uma participação em um episódio da série “As Brasileiras”. O teatro, nesse momento, é uma forma de voltar ao trabalho de maneira mais progressiva e menos sofrida?
Não foi planejado assim, mas está tendo essa função de fazer com que eu e o Romeo nos acostumemos com aquela que vai ser nossa rotina. Está sendo difícil ficar em outra cidade e não sentir o cheirinho dele antes de dormir, mas nós vamos nos acostumando… Depois da participação em “As Brasileiras”, eu fiz também um filme e fiquei mais horas seguidas longe dele, mas, pelo menos, nesse caso, eu voltava para casa. Agora, com o teatro, é diferente.
Não tem trazido seu filho para São Paulo nos finais de semana?
Trouxe na ultima semana de ensaios porque fiquei dez dias corridos em São Paulo. O Romeo foi comigo para o teatro em um domingo, quando a sessão começava às 19h. Ele dorme cedo, então não rola muito esse intercâmbio de levá-lo para ficar no camarim. Romeo é novinho, tem só um ano e três meses, está descobrindo tudo, muito ativo e curioso. O mundo dele é um grande parque de diversões e exige uma atenção enorme. Mas eu ligo para a babá umas duas ou três vezes quando estou longe para saber se ele comeu direitinho, se descansou e, principalmente, se está feliz.
O teatro deve ocupar um lugar maior na sua vida agora? Existe a necessidade de se testar e se aperfeiçoar em outras linguagens além da TV?
Eu tinha feito duas peças até agora, “Vergonha dos Pés”, ao lado do Danton Mello, e “A Marca do Zorro”, que não veio para São Paulo. Essa necessidade de me testar e, claro, fazer teatro sempre existiu, mas nunca tive tempo para atendê-la interpretando papéis principais nas novelas. Tenho vontade de experimentar meu trabalho de outras formas e é uma delicia fazê-lo! Estou amando poder trabalhar em teatro e cinema! Mas quando minha empresa, a Rede Globo, precisar de mim, será a prioridade.
Fonte: Veja São Paulo